O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, vetou hoje o Decreto que aprova medidas no âmbito do programa Mais habitação, mesmo sem encontrar pontos inconstitucionais no mesmo. Esta decisão, fortemente política, significa que o diploma, que passou anteriormente pelo Parlamento, voltou para potenciais revisões e ajustes.

A decisão do Presidente não se baseou em questões de legalidade, mas sim em preocupações sobre o realismo e a viabilidade das propostas contidas no diploma. Marcelo expressou apreensões quanto ao otimismo excessivo e à possibilidade de expectativas elevadas em relação aos prazos e recursos administrativos disponíveis.

Ainda que vetado pelo Presidente da Républica, o Governo, onde o partido PS possui a maioria, já comunicou que apesar de respeitar a opinião de Marcelo Rebelo de Sousa, irá confirmar o diploma sem qualquer tipo de alteração.

Não obstante, o Presidente identificou vários riscos e críticas ao diploma, reforçando a necessidade de uma revisão cuidadosa:

  1. “Salvo de forma limitada, e com fundos europeus, o Estado não vai assumir responsabilidade direta na construção de habitação.
  2. O apoio dado a cooperativas ou o uso de edifícios públicos devolutos, ou prédios privados adquiridos ou contratados para arrendamento acessível, implicam uma burocracia lenta e o recurso a entidades assoberbadas com outras tarefas, como o Banco de Fomento, ou sem meios à altura do exigido, como o IHRU.
  3. O arrendamento forçado fica tão limitado e moroso que aparece como emblema meramente simbólico, com custo político superior ao benefício social palpável.
  4. A igual complexidade do regime de alojamento local torna duvidoso que permita alcançar com rapidez os efeitos pretendidos.
  5. O presente diploma, apesar das correções no arrendamento forçado e no alojamento local, dificilmente permite recuperar alguma confiança perdida por parte do investimento privado, sendo certo que o investimento público e social, nele previsto, é contido e lento.
  6. Não se vislumbram novas medidas, de efeito imediato, de resposta ao sufoco de muitas famílias em face do peso dos aumentos nos juros e, em inúmeras situações, nas rendas.
  7. Acordo de regime não existe e, sem mudança de percurso, porventura, não existirá até 2026.
  • Em termos simples, não é fácil de ver de onde virá a prometida oferta de casa para habitação com eficácia e rapidez.”

Paralelamente a esta decisão, Marcelo promulgou outro decreto relativo à habitação, embora com algumas ressalvas, enfatizando a necessidade de equilíbrio entre simplificação urbanística e outros valores importantes, como segurança e qualidade das construções. Além disso, destacou a relevância de considerar o papel da Administração Local em tópicos de habitação e ordenamento territorial.

O diploma “Mais Habitação” tinha sido originalmente aprovado em julho, com suporte principalmente do PS. Outros partidos no Parlamento ou votaram contra ou optaram pela abstenção. Antes de sua aprovação parlamentar, o diploma, que tem 95 páginas, passou por três meses de discussão pública e enfrentou oposição de vários setores, incluindo proprietários e operadores de alojamento local.

Para mais detalhes poderá ler aqui a carta completa do Presidente e o resumo das medidas do programa aqui.

Departamento Imobiliário

Rita Tigeleiro Asonfo | Sofia Batista Linguiça | Carla Pereira Rocheta | Cláudia Silva de Lima